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Desamparo como traço de personalidade


Origem da depressão e ansiedade:

Algumas pessoas são mais depressivas e ansiosas que outras.
Para algumas, a percepção de desamparo e estado de depressão ocorrem após muitos sofrimentos dolorosos.
Para outros, o menor infortúnio desencadeia essa depressão.
Para esses, a depressão é mais que um estado, é um traço de personalidade.
Experiências da infância, meninice, adolescência indicam os alicerces do desamparo.


Desenvolvimento emocional e educação:

Motivação e emoção são mais plásticas, e determinadas pelo ambiente.
A cognição é menos plástica.
Contingências ambientais podem gerar em crianças a crença de que não tem condições de serem bem sucedidas (desamparo).
Ou a crença de que suas respostas são importantes (controle sobre seu próprio mundo)

Crença no desamparo:
Desempenho inferior qualquer que seja seu QI ou talento inato.

Crença no domínio e controlabilidade:
Desempenho superior qualquer que seja seu QI.

Determinantes da crença:
Experiências pessoais com eventos controláveis ou incontroláveis determinam a crença do indivíduo no seu próprio desamparo ou na sua capacidade de controle.

Seres humanos começam a vida em maior desamparo que as outras espécies animais.

Em 10 – 20 anos adquirem o domínio de seu entorno, ou profundo sentimento de desamparo.

As experiências passadas determinam a intensidade do senso de desamparo ou de domínio.

O recém nascido inicia com o ambiente uma troca de estímulos que perdura por toda a infância.

O resultado desta troca determina seu senso de desamparo ou domínio.

Se a correlação entre resposta e consequência é zero, o desamparo evolui.

Se a correlação é positiva ou negativa, indica que a resposta está sendo eficaz, e a criança aprende:
a emitir mais dessas respostas
a refrear sua emissão,
dependendo de serem boas ou ruins as consequências relacionadas.

Acima de tudo, a criança aprende que responder é efetivo e que há sincronia entre respostas e consequências.

Quando há assincronia e desamparo a criança pára de emitir respostas.

A não emissão de respostas leva às mesmas consequências do desamparo em adultos:
            deficiência no iniciar respostas
tendência cognitiva negativa
ansiedade e depressão

Em crianças, esses efeitos podem ser mais desastrosos porque ela está constituindo as bases da pirâmide de suas estruturas emocionas e motivacionais.

Controlar o ambiente dá imenso prazer à criança em desenvolvimento.

A falta de controle não dá prazer, e até pode ser aversiva, mesmo em ambientes interessantes, atraentes.


Privação materna:

A falta de controle sobre as consequências trazem graves prejuízos psicológicos às crianças, em certos ambientes institucionais, levando ao marasmo e falta de interação com o meio e pessoas.

Origens dessa síndrome comportamental:
  1. Mãe mantém relacionamento com o filho, no período de 6 a 18 meses de idade e é afastada deste.
    1. Se o contato é fraco ou negativo, a síndrome tende a não aparecer.
    2. Se a mãe volta logo, a síndrome tende a regredir.
  2. Criança criada em orfanato, sem estímulo afetivo pelos cuidadores.

Sem intervenção, o prognóstico é sombrio, podendo levar à morte.

A privação de estimulação gera crianças privadas de controle sobre a estimulação.

Quando uma pessoa é exposta a carência crônica de alguma coisa, está sendo exposta à falta de controle sobre essa coisa.

A mãe é fonte de sincronia para as respostas da criança; é o objeto principal de suas análises de contingência. (contingência é algo que pode acontecer e  que não sabemos se irá acontecer ou não )

O sentido de domínio ou de desamparo da criança se desenvolve a partir da informação fornecida pelas respostas da mãe e suas ações.

A ausência da mãe promove profundo sentido de desamparo se não lhe for dada uma mãe substituta responsiva.

A mãe também é fonte de frustração e conflito para a criança, o que é útil se forem frustrações e conflitos solúveis.

Ocorrem problemas, frustrações e ansiedades que aumentam o senso de eficácia quando enfrentados pela criança.

O desamparo tende a se impor se as frustrações não se resolvem ou são resolvidas pelos pais, e não pela criança.

O desamparo precoce promove efeitos sobre o desenvolvimento posterior.

Ser criado com possibilidade de domínio de situação talvez acarrete menos ansiedade do que ser criado em condição de desamparo.

A experiência de controle em idade precoce pode imunizar o organismo contra o desamparo em idade adulta.

Uma mãe responsiva é fundamental na aprendizagem de domínio.

Desenvolve-se o senso de desamparo se a criança tem experiências de dependência entre respostas voluntárias e consequências.

Ausência de mãe, de privação de estímulos e não responsividade da mãe são fatores que contribuem para a aprendizagem de incontrolabilidade.

As consequências do desamparo no desenvolvimento do organismo infantil são semelhantes à dos adultos: deficiência na iniciação de respostas, dificuldade em ver que o responder é eficaz, ansiedade e depressão.

Conclusão:
A atitude de uma criança ou de um adulto com relação ao seu próprio desamparo ou domínio tem suas raízes no desenvolvimento infantil.

O senso de domínio se desenvolve quando a criança dispõe de potentes sincronias entre suas ações e consequências.


Previsibilidade e controlabilidade na infância e adolescência:

A controlabilidade e o desamparo têm papel fundamental nos impactos sobre criança no sistema educacional.

Na escola a criança aprende até onde vai seu desamparo e sua eficácia.

Quanto mais atrasada no aprendizado, mais profundo se torna seu desamparo.

A mais alta inteligência não pode se manifestar se a criança crê que suas ações não surtirão efeito.

A aquisição de estratégias cognitivas superiores necessárias ao êxito escolar pode ser atrasada se a criança aprende que responder não leva a solução.

Crianças com baixo desempenho escolar podem estar formando cognição de que suas respostas são ineficazes.

Crianças formam cognição de desamparo discriminando as matérias escolares, e nem sempre em todas.

É comum a criança se sentir desamparada frente a uma matéria ou um professor, e com outros, não.

A criança é capaz de discriminar e acreditar em seu desamparo em determinado conjunto de circunstâncias e não em outras.

O desamparo e a depressão podem rebaixar o QI e o desempenho escolar.

O bom desempenho cognitivo exige capacidade cognitiva adequada e motivação para o desempenho.

A internalização da crença no desamparo pode se provocada por comentários feitos por professores sobre baixo QI e desempenho de um aluno.

A internalização da crença no desamparo gera menor persistência frente às dificuldades acadêmicas.


Frente a um problema solúvel, em condições erradas, seu desempenho será muito abaixo de sua capacidade.

Para reverter o desamparo escolar é necessário a vivência de alguns fracassos e o desenvolvimento de uma tática de lidar com o insucesso.

A privação da experiência de lidar com o insucesso produz desamparo até em níveis escolares mais avançados.

O jovem que não adquire experiência no trato da ansiedade e da frustração, que não passa por insucessos para depois se recuperar, será incapaz de lidar com o fracasso, o tédio e a frustração.

Sucesso e vida excessivamente fáceis fazem do indivíduo um ser desamparado no momento em que aparece o primeiro fracasso

Suavizar demais o caminho é um desastre para o caráter e a noção de competência.

O indivíduo precisa se confrontar com ansiedade, tédio, sofrimento e problemas.

E precisa dominá-los com suas ações para desenvolver noção de competência.

Crianças que revelam maior auto estima provêm de ambientes em que os padrões são claros e explícitos.

O sentido de valor, domínio, auto estima não pode ser dado, só conquistado.

Quando dado, perde seu valor e deixa de contribuir para a dignidade do indivíduo.


Pobreza:

A pobreza extrema e opressiva produz desamparo.

Crianças criadas no meio de extrema pobreza ficam expostas a um grau desmedido de incontrolabilidade.


Desamparo, impotência e pobreza:

Imobilidade, estagnação, apatia, indiferença e derrotismo estão entre as consequências mais óbvias da impotência pessoal e comunitária.

Hostilidade generalizada, agressividade, auto rancor, suspeitas, tumultos conturbados e tensões pessoais e sociais crônicas refletem as reações autodestrutivas e mal adaptativas ao fato e ao sentimento generalizado de falta de poder.

Anomia = estagnação, hostilidade e alienação.

A pobreza não explica a anomia.

A pobreza acarreta frequentes e intensas experiências de incontrolabilidade.

E a incontrolabilidade produz desamparo.

E desamparo causa depressão, passividade e derrotismo.

Aglomerações habitacionais podem ser um mecanismo que aumenta a incontrolabilidade.

Aglomerações podem produzir depressão e desamparo.


Morte:

 Crença no domínio sobre o ambiente pode prolongar a vida.

A esperança sustenta o homem a persistir.

Quando perde a esperança, passa a acreditar que seus esforços não serão recompensados e desiste.

Conviver com pessoas intransigentes pode levar ao desamparo: sensação de que qualquer que sejam suas ações, ela não terão efeitos.

O estado de desamparo aumenta o risco de morte.

Fatores que favorecem a sobrevivência em circunstâncias de desamparo: motivação para viver, persistente exercício da vontade, persistente controle ativo sobre as consequências.


Morte e velhice:

A velhice acarreta enfraquecimento físico.

A velhice promove a perda de controle.

O sentimento de controle pode significar diferença entre a vida e a morte.

Privar os velhos do controle sobre os eventos mais importante de suas vidas, da liberdade de escolha, pode promover a morte.

Remover vestígios de controle sobre o ambiente de um ser humano debilitado pode antecipar a morte.

A aposentadoria é uma forma de se fazer isso: desconsidera o mérito individual ao privar o ser humano de seu trabalho, talvez sua mais importante fonte de controle instrumental.


Morte e infância:

Crianças de orfanato, com um mínimo de estimulação, tornam-se apáticas e inertes.

Crianças filhas de presidiárias, ao serem separadas de suas mães, desenvolvem sintomas de depressão.

A falta de estimulação e a separação da mãe na idade em que ela começa a desenvolver controle instrumental, gera desamparo.


Morte súbita por desamparo:

Ocorre quando o indivíduo perde o controle sobre as coisas importantes para si.

Reage com depressão, passividade e submissão, sentindo-se desamparado e desesperançado.

Segue-se a morte súbita, também chamada de suicídio involuntário (quando o indivíduo não é agente causador da morte), ou deixar-se morrer.

A promoção de controle instrumental na vida daqueles que são vulneráveis pode evitar algumas dessas mortes.



Notas sobre o livro Desamparo, sobre depressão, desenvolvimento e morte, de Martin E. P. Seligman III

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