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Sobre o DESAMPARO



O desamparo

Quando um organismo sofre uma experiência de um trauma que não pode controlar (incontrolabilidade), sua motivação para responder quando diante de traumas posteriores se enfraquece.

Mesmo que consiga responder, e que sua resposta tenha êxito e produza alívio, esse organismo tem dificuldade em aprender, perceber e acreditar que sua resposta foi efetiva.

A incontrolabilidade leva à deterioração da prontidão para responder adaptativamente a traumas.

Quando se defronta com eventos nocivos, sobre os quais não tem controle, sua motivação para responder sofre drástica redução.

Um evento incontrolável prejudica a motivação para iniciar respostas voluntárias que controlam outro evento e dificulta a aprendizagem de que a resposta dada foi bem sucedida, mesmo quando o êxito foi real.

A incontrolabilidade distorce a percepção de controle.

Distúrbios causados pela incontrolabilidade:
  • Corrosão da motivação para responder
  • Mina-se a capacidade para perceber o sucesso
  • Aumenta a emocionalidade

O desamparo gerado por uma experiência aversiva generaliza-se para outras. Retarda o início das respostas defensivas e agressivas.

Quando um ser vivo aprende que está desamparado em uma situação, generaliza e tem seu repertório comportamental adaptativo deteriorado.

Há fatores que limitam a generalização do desamparo: imunização, controle discriminativo e valor relativo do evento incontrolável.

Os três efeitos do desamparo: motivacionais, cognitivas e emocionais.

Motivacionais: com o tempo, desaparecem. Prejuízo no incentivo para iniciar respostas.
Cognitivos: Indivíduo aprende que a consequência independe da resposta dada frente ao estímulo.
Emocionais: surge a emoção do medo, que é suprimida caso o indivíduo controle a situação, ou é substituída pela depressão, caso haja incontrolabilidade.


Distúrbio emocional: o evento traumático gera o estado emocional do medo, que persiste até que:
1.     o indivíduo aprenda que pode controlar o trauma, reduzindo ou extinguindo o medo.
2.     o indivíduo aprenda que não pode controlar o trauma, levando à redução do medo pela substituição deste pela depressão.

O medo é a emoção dominante que acompanha o estado de trauma inescapável. Se o trauma for incontrolável a luta eventualmente cederá lugar ao estado de desamparo. A emoção que acompanha o estado de desamparo é a depressão.

O medo e a frustração são elementos motivadores naturais, que evoluíram a fim de dar energia para a luta, e são mobilizados pelo trauma.

O medo motiva as respostas iniciais para controlar o trauma.
Uma vez controlado, o medo torna-se pouco útil e declina.
Ele também declina quando o sujeito conclui pela incontrolabilidade do trauma, tornando-se então inútil, custando ao indivíduo grande energia numa situação sem esperança.
Nesse momento surge a depressão.

O medo diante do trauma pode ser reduzido ou persistente
Reduzido: indivíduo aprende que responder controla o trauma, suprimindo o medo
Persistente: indivíduo duvida quanto à controlabilidade do trauma, cedendo lugar à depressão


O desamparo provoca medo e depressão.
Atividades que evitam o desamparo, evitam os estados emocionais aversivos de medo e depressão.
O impulso da competência em dominar os eventos do ambiente talvez seja um impulso para evitar o medo e a depressão induzidos pelo desamparo.
 
 


Cura e prevenção do desamparo:

A cura ocorre quando é suprimida a expectativa da incontrolabilidade, de que responder é inútil.

Há três fatores que limitam a expectativa da incontrolabilidade:
  1. Imunização por expectativa contrária
    1. Experiências anteriores determinam a crença da controlabilidade ou não dos acontecimentos
  2. Imunização por controle discriminativo
    1. Indivíduo capaz e discriminar eventos controláveis dos incontroláveis.
  3. Importância relativa das consequências
    1. Eventos mais traumáticos facilmente se generalizam para situações menores.


Fisiologia do desamparo:

Frente à incontrolabilidade há queda nos níveis de NA (noradrenalina).

Para Weiss, a queda de NA é quem explica o desamparo e não o aprendizado ou cognição.

Para Thomas, o desamparo é explicado pela ação colinérgica da área septal, que quando estimulada inibe o feixe prosencefálico medial, de ação adrenérgica (NA), gerando passividade e letargia; e quando bloqueada, suprime o desamparo.

Para Seligman, há inter-relação entre a fisiologia e a cognição: a queda de NA é suficiente para produzir o desamparo. A fisiologia causa a cognição e a cognição causa alteração fisiológica.

As noções de escapabilidade e inescapabilidade não é física, mas cognitiva.
Ela dá início à cadeia de eventos fisiológicos emocionais e comportamentais que, juntos, constituem o desamparo.



Resumo da teoria do desamparo:

Indivíduos expostos a eventos incontroláveis sentem medo.

E aprendem que responder é inútil.

Apresentam queda no incentivo e na motivação para reagir aos eventos
                    queda na aprendizagem de que reagir aos eventos é eficaz quando os eventos são controláveis

Generalizam a incontrolabilidade para TODOS os eventos, mesmo os controláveis.

Produzem, assim, distorções cognitivas.




 Notas sobre o livro Desamparo, de Martin E. P. Seligman, sobre depressão, desenvolvimento e morte.


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